Por Lia Luft.
Ainda pensamos nele, nas suas necessidades, emoções, desejo, frustrações, medo
as amigas, o bingo, o carteado, a butique, o mais recente mexerico sobre artistas de
televisão ou sobre a vizinha? Não sei. Receio que responder seja tão duro quanto
perguntar.
Não acho que a gente deva ser boazinha, gueixa submissa ou serviçal ressentida,
menininha de voz fina gingando em saltos altíssimos pela casa ou arrastando-se às
4 da tarde de robe e pantufas com cara de cachorro (vi numa vitrine umas com
orelhas!).
Importante seria não deixar que a poeira da banalidade abafasse o que havia entre
a gente de encantamento e magia, ainda que o namorado agora seja um marido
mais barrigudo, e menos cabeludo, de óculos, que chega em casa cansado demais
pra reparar no quanto estamos bonitas ou exaustas demais.
O bom seria que continuássemos amantes, sendo também amigos. Pois amor é
amizade com sensualidade: se não gosto do outro com seus defeitos e qualidades,
manias e até pequenas loucuras, como foi que o escolhi para viver comigo numa casa,
na mesma mesa, cama e talvez todo o tempo de minha existência?
infantis e de um egoísmo retumbante. Embora gostemos de nos apresentar como
incompreendidas ou maltratadas, merecedoras de todas as compensações
imagináveis, é bom ponderar que a mulher-vítima e a mãe-mártir inspiram culpa e
aflição e perturbam toda uma família.
Melhor ser natural. Melhor ser generosa com limites, sem se deixar explorar; melhor
ser bem-humorada, porque alegria é muitas vezes a última esperança de um velho
amor. Melhor ainda, melhor mesmo, é abraçar, fazer aquele carinho, olhar fundo no
olho, e dizer alguma palavra antiga, esquecida nas correrias cotidianas. O coração
se renova com a mesma fagulha que, há dois anos ou 20 ou até mais, fazia cada
encontro uma emoção, e a gente sentia que ali, sim, estava o que mais queríamos na
vida. Resta saber o que fizemos com aquela relação e como temos afinal lidado com
esse homem que foi o objeto máximo de nosso desejo e sonho.
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