Parte 2
Por Lia Luft.
- Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo:
filho, panela ou computador – e venha me dar um beijo como os de antigamente. Que,
mesmo com o passar do tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano,
ela não perca o jeito que me encantou quando a vi pela primeira vez. Que se estou
cansado demais para fazer amor ela não ironize nem diga que “até que durou muito”
o meu desejo ou potência. Que quando quero fazer amor ela não se recuse
demasiadas vezes nem fique impaciente ou rígida, mas cálida como foi anos atrás.
Que ela não me humilhe porque estou ficando calvo ou barrigudo nem comente nossa
intimidade com as amigas, como tantas mulheres fazem. Que jamais se permita
comentar diante de outros, nem de brincadeira, seja positiva ou negativa, o meu
desempenho sexual.
Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra
isso ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine o que eu não souber.
Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós
quando me distancio ou distraio demais. Que quando preciso ficar um pouco quieto
ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute, como se silêncio fosse sinal
de falta de amor. Que quando estou com pouco dinheiro ela não me acuse de ter
desperdiçado com bobagens em lugar de prover para minha família. Que quando
estou trabalhando ela não telefone a toda hora para cobrar alguma coisa que esqueci
de fazer ou não tive tempo. Que não se insinue com minha secretária ou colega para
descobrir se tenho uma amante.
Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza, de ternura, me
desarmar, me desnudar de alma, sem medo de ser criticado ou censurado: que ela
seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz. Que cuide um pouco de mim
como minha parceira, mas não como se eu fosse um filho desastrado e ela a mãe
onipotente; que não me transforme em filho.
E que, se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais ou a machuco
consciente ou inconscientemente, ela saiba me chamar de volta com aquela ternura
que só nela eu descobri e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse
e me tornasse mais feliz, menos solitário e muito mais humano.
Essa brincadeira séria me valeu protestos de algumas mulheres, aplausos de
outras e abraços de muitos de meus amigos homens. Alguém (um homem) me
escreveu dizendo que suspeitava de que o texto tivesse sido escrito pelo meu
“maridão”. Respondi ao e-mail com outro informando que só se fosse em sessão
espírita, pois há muitos anos eu já enviuvara pela segunda vez. E se eu dissesse que
o pai de meus filhos, ilustre gramático e lingüista, jamais escrevera uma linha de
meus tantos livros, essa pessoa não acreditaria também.
De modo que, sim, eu acho que não somos santas nem temos obrigação de ser,
mas bem que aqui e ali valeria a pena parar, olhar, escutar; dentro de si, e ao lado,
onde está aquele com quem afinal partilhamos a vida.
Temos escutado o que ele diz ou o que nos diz seu silêncio? Temos ainda lembrado
de agradar, elogiar, sorrir, fazer carinho ou estamos demais ocupadas botando Botox
na cara e passando horas na academia com medo de que o tempo nos devore o que sobrou da nossa alma?
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